Artigo da Semana
Editorial: A pressa em noticiar e a lerdeza em apurar
Quando parte da mídia troca a verdade pela inconstância do furo jornalístico!

No afã de dar a notícia primeiro, parte da imprensa de Ilhéus tem cometido um pecado imperdoável: sacrificar a precisão em nome da velocidade. O caso da cassação dos vereadores por suposta fraude na cota de gênero expôs não apenas as falhas do sistema político-eleitoral, mas também a irresponsabilidade de alguns veículos de comunicação que se apressam em publicar manchetes impactantes sem a devida apuração dos fatos.
A ânsia pelo “furo” tem atropelado princípios básicos do jornalismo, como ouvir todas as partes envolvidas, consultar especialistas e esgotar as possibilidades de erro antes de cravar uma afirmação. O resultado? Desinformação, histeria coletiva e, muitas vezes, a propagação de narrativas que servem mais a interesses políticos do que ao compromisso com a verdade.
O caso dos vereadores cassados em razão da suposta fraude cometida pelos seus respectivos partidos ilustra bem esse problema. A decisão da Justiça Eleitoral reconheceu fraude na cota de gênero, mas deixou claro que ainda há instancias superiores para recorrer, ou seja, existem instrumentos jurídicos que podem beneficiar os “cassados”, o que significa dizer que pode ser concedido efeito suspensivo pelo Tribunal Regional Eleitoral ao receber o recurso ou atribuído efeito imediato. Por essas razões, os partidos ingressaram com recursos apontando suas vertentes. No entanto, para alguns blogs, bastou a primeira decisão judicial para decretar a posse imediata dos suplentes e espalhar versões distorcidas do que realmente estava acontecendo. Ignoraram a complexidade do processo eleitoral, o direito à ampla defesa e até a jurisprudência consolidada que impede mudanças automáticas sem o trânsito em julgado.
A pressa de noticiar virou um vale-tudo em que a checagem dos fatos fica em segundo plano. O compromisso tem sido com o clique, não com a credibilidade. Esse comportamento irresponsável não apenas desinforma, mas também prejudica a população, que se vê refém de manchetes sensacionalistas e verdades pela metade.
Como bem definiu o jornalista Cláudio Abramo, “o jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”. Sem ética e compromisso com a verdade, o que se produz não é jornalismo, mas um espetáculo vazio de credibilidade.
O episódio serve de alerta. O jornalismo sério não se faz na base do “ouvi dizer” ou do “solta primeiro, conserta depois”. Ele exige responsabilidade, rigor e compromisso com os fatos. O que está em jogo não é apenas a reputação dos políticos envolvidos, mas também a confiança do público na imprensa. E quando a credibilidade é posta em xeque, parte da mídia local perde seu papel essencial: informar com verdade, e não apenas com velocidade.

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