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Governo aniquila a Ceplac e ajuda o importador de cacau. Qual é?
O deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT) quer que o ministro Paulo Guedes (Economia) explique o porquê da importação de cacau pelo Brasil com concessões fiscais, através de um mecanismo conhecido como drawback.
– Simplesmente não dá para entender. O cacau que eles importam aqui vem de Gana, Costa do Martim. De saída, há uma grande diferença na produção: nós aqui não temos mão de obra infantil e nem trabalho escravo. E eles lá têm. A concorrência é desleal.
Ele fez um questionário e espera resposta do ministério em 30 dias. Quer saber o que já desconfia, se tais benefícios são danosos para a produção brasileira, a baiana em particular.
Perguntas — Félix indagou por exemplo: de que forma as concessões aduaneiras ao cacau importado contribuem para a geração de empregos locais? E qual seria a renúncia fiscal da União se o produto nacional usufruísse das mesmas vantagens.
Essa situação ocorre justo no momento em que a Ceplac sofre um deliberado processo de desmonte (veja nota abaixo) com a demissão em massa de diretores regionais e o desmantelamento da operação.
Félix diz que se o governo tivesse boa vontade o ouviria, incorporando a Ceplac à Embrapa e fazendo a Embrapa Cacau, como já tem a Embrapa Café, uma experiência bem-sucedida.
O fato é que pelas duas pontas o governo prejudica o produtor cá e ajuda a concorrência lá, é gol contra de propósito.
Segundo Raul Valle, pequenos cacauicultores vão perder mais
Raul Valle, o diretor do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), da Ceplac, esta semana demitido com um lacônico comunicado do diretor geral Waldeck Pinto de Araújo Júnior, diz que no caso não foi nada pessoal:
– Há uma predisposição de acabar a Ceplac mesmo. O orçamento do ano passado era de R$ 18 milhões, o deste ano é R$ 10 milhões. Os gastos com viagens, visitas a fazendas, eram de R$ 65 mil, caíram para R$ 3 mil. E o governo, por decreto, excluiu a pesquisa do orçamento, além de oferecer imóveis às prefeituras.
Raul diz que, nesse processo, nada menos que 70 mil produtores, 80% deles pequenos, não mais que cinco hectares, são os grandes prejudicados, vão ficar desamparados.
No bojo da pendenga, há a herança do desastre da vassoura-de-bruxa, com dois mil produtores induzidos a tomar empréstimos pela Ceplac que devem R$ 1 bilhão. O cenário é complicado.
O sinônimo do dinheiro
Diz o deputado Félix Mendonça que o olhar das pessoas de fora da Bahia para o cacau ainda é povoado pela fantasia de obras como Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, a do coronelzão rico.
– Cacau é sinônimo de dinheiro. É comum as pessoas dizerem: ‘Me dá um cacau aí’, ou o ‘cacau está entrando’. É assim que eles ainda veem o cacau.
Ele diz que a Ceplac sempre sofreu influência política, mas extingui-la é erro grosseiro.
Herzem, um que não deu bola para a Covid e errou
A piora do estado de saúde de Herzem Gusmão deixou Vitória da Conquista apreensiva. A turma que bombardeia o lockdown está firme em campo, mas também tem quem lembre que ele era (ou é) um. E se deu mal.
O segundo turno em Conquista foi 29 de novembro. Dia 30, Herzem, que derrotou o deputado Zé Raimundo (PT), convocou uma coletiva no Hotel Ibis. Se dizia que o espaço era restrito a apenas 20 pessoas. Foram mais de 200, todos sem máscara, Herzem incluso.
Quinze dias depois Herzem testou positivo. Do Ibis, vários também. Dia 26 de dezembro o prefeito foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e até hoje está UTI, agora intubado. Rezem por ele.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Lomanto e cruzes
Conta o ex-deputado Pedro Alcântara que Lomanto Júnior, quando governador (1963 a 1967), construiu a estrada que liga Feira de Santana a Juazeiro, integrando o Vale do São Francisco a Salvador. Virou uma figura venerada por todos.
E eis que Lomanto lá esteve pela última vez, em missão oficial, em meados dos anos 90, foi à inauguração da agência local do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Com o vozeirão que fazia sua marca, começou a discursar:
– Juazeiro, minha terra querida! Terra de tantos amigos!… Terra do meu amigo Arnaldo Vieira do Nascimento (ex-prefeito), hoje no céu! Terra do meu amigo Zé das Caçambas, também hoje no céu!…
Deu uma paradinha, olhou para alguém que estava atrás, perguntou baixinho:
– E Joca Oliveira (ex-prefeito) ainda é vivo?
E o interlocutor:
– Qual é, Lomanto?! Joca Oliveira sou eu!
E Lomanto:
– Desculpe, Joca. É que eu olho para trás e só vejo cruzes…
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