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Bahia

Última eleição com voto impresso na Bahia teve suspeita de fraude

Tribuna da Bahia.
Para o professor Jaime Barreiros Neto, de fraude seria “mais difícil” hoje por causa da urna eletrônica

Em meio ao debate sobre o retorno do voto impresso no Brasil, casos de fraude quando a modalidade era adotada têm sido lembrados. Na Bahia, a última eleição só com voto impresso foi marcada por suspeitas de trapaça. Foi em 1994 em uma disputa ao Senado Federal. Na época, havia duas vagas, mas uma já era considerada ocupada pelo ex-governador Antonio Carlos Magalhães. Já, para ocupar a segunda vaga, houve uma briga acirrada entre Waldir Pires e Waldeck Ornelas.

Após a apuração dos votos, ACM obteve 37,36%, 1.926.557. Já Waldeck Ornelas, que era aliado de Antonio Carlos, teve com 25,04%, 1.291.382 sufrágios. Waldir Pires ficou em terceiro lugar com 24,98%, 1.288.316 votos. A diferença entre o segundo e o terceiro colocados foi de apenas 3.066 votos. Biógrafo de Waldir Pires, o jornalista Emiliano José conta que a suspeita ocorreu porque, em “centenas de urnas”, Ornelas teve mais votos do que o próprio ACM. “O que é absolutamente impensável sem a fraude. Era uma transferência óbvia de votos, articulada naturalmente por dentro do Judiciário, sem que fosse possível provar. Ou se transferiam votos dados a Antonio Carlos Magalhães para Waldeck Ornelas ou se preenchiam votos brancos a favor dele, ou se contavam nulos como sendo válidos para garantir a vitória do indicado por aquele que os liderados chamavam de chefe”, escreveu Waldir, no segundo volume da obra “Waldir Pires, biografia”. Segundo ele, as próprias pesquisas da época apontavam Waldir Pires sempre à frente de Ornelas.

No artigo “Milagre baiano”, que foi publicado em outubro daquele ano no jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Jânio de Freitas relata que um juiz de Feira de Santana admitiu que houve a fraude. “Pelo menos um episódio de transferência de votos de Antonio Carlos para Ornelas resultou em flagrante e divulgação. Um juiz de Feira de Santana, advertido por fiscais, confirmou a troca e determinou a reversão dos votos. Mas os indícios de troca sem flagrante são muitos. Ornelas, político do interior, com mais votos do que Antonio Carlos até em urnas de Salvador, é mais do que suspeito”, anotou.

Para o professor de Direito e analista do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TER-BA), Jaime Barreiros Neto, este tipo de fraude seria “mais difícil” hoje, por causa da urna eletrônica. “Só se acabassem com a urna eletrônica, aí sim”, explicou, em entrevista à Tribuna. Os defensores do voto impresso hoje não querem acabar com a urna eletrônica, que passou a ser adotada no Brasil a partir das eleições de 1996. Os favoráveis à nova regra querem que a urna eletrônica imprima o voto, e a cédula de papel fique disponível se a eleição for contestada. O que pode criar várias confusões, segundo Barreiros Neto. “Hipoteticamente, nada impede que um grupo de 4 ou 5 eleitores, usando da má-fé, alegue que o voto dado a um candidato não corresponde àquele que foi impresso pela urna”, citou, como exemplo.