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RESEX Canavieiras promove educação ambiental no território

Projeto Político Pedagógico de educação ambiental – PPPea envolveu diversos atores nas discussões para construção do instrumento de gestão

A Reserva Extrativista – RESEX de Canavieiras sediou, nos dias 08 a 15 de novembro, o encontro presencial do processo formativo do seu Projeto Político Pedagógico de educação ambiental – PPPea na sede da cidade e nas comunidades do entorno. Foram cinco dias de oficinas com os cursistas e quatro rodas de conversa nas comunidades de Atalaia, Puxim do Sul, Pedras de Una, e uma reunião com a Secretaria Municipal de Educação de Canavieiras e com a Associação Mãe dos Extrativistas da RESEX de Canavieiras – Amex.

Os encontros tiveram objetivo de promover a discussão e reflexão sobre o que é um PPPea, sobre o contexto da RESEX, levantar os problemas e os projetos de educação ambiental existentes, além de construir conjuntamente propostas educativas e sociais que envolvam o tema meio ambiente.

De acordo com Maria Henriqueta Andrade Raymundo, consultora contratada para facilitar o PPPea, esse processo formativo caracteriza-se, também, numa estratégia de planejamento, diagnóstico e mobilização social que propicia a participação de atores estratégicos para uma construção coletiva em busca de compreender, organizar, articular, sistematizar, priorizar, executar e monitorar os processos pedagógicos socioambientais.

Uma das participantes do PPPea, Wilma Oliveira Lima Andrade, do Puxim do Sul, é agente comunitária de saúde e estuda gestão ambiental. Ela conta que soube do curso através de uma colega que divulgou no grupo da faculdade e tinha muita curiosidade em entender o que é o PPPea e a RESEX. “Meu marido é pescador, mas ele não se envolve com questões da RESEX”, informa Wilma. Ela comenta que o encontro do PPPea foi uma experiência enriquecedora, e durante as oficinas teve a oportunidade de mudar sua visão em relação à RESEX: “A visão que eu tinha da RESEX era a visão de fora, que nos foi passada, que trouxe prejuízos para o desenvolvimento de Canavieiras. Aqui, ouvindo o povo que é beneficiário, vejo a coisa diferente. Quando você ouve essas pessoas, compreende que são pessoas esclarecidas, que sabem o que estão buscando e defendem o território e isso não é só discurso; elas buscam agir para melhorar a situação. Tem muito trabalho, muitos projetos sendo realizados aqui que não conheço. A visão que eu saio hoje

é diferente. Meu olhar foi ampliado, o que não quer dizer que concordo com tudo, mas a gente sempre tem que ouvir os dois lados, pois não há verdade absoluta, principalmente na questão social”, afirma.

Maria D’Ajuda Gomes, marisqueira de Belmonte e beneficiária da RESEX, acredita que o processo do PPPea é “de suma importância para os extrativistas, principalmente porque ajuda na construção do que já vem sendo feito na RESEX: a luta pelos direitos dos pescadores, marisqueiras, e pequenos agricultores, pela proteção do meio ambiente, dando visibilidade a todos, porque muitos vivem na invisibilidade”, revela. Ela fala das dificuldades que enfrenta enquanto marisqueira e das questões de saúde que muitas mulheres enfrentam na atividade: “Muita gente vê o catado pronto nos seus pratos e nem faz ideia de como ele chega lá, que passa pelo processo de pesca, mariscagem, beneficiamento”. Ela conta que são horas trabalhadas e que na pressa de entregar o produto a tempo, as marisqueiras esquecem de beber água, esquecem da saúde e acabam tendo problemas ginecológicos e de infecção urinária.

Sobre o curso do PPPea, ela diz que gostou muito de ver pessoas diferentes participando, pois além de diversificar o debate, elas tiveram oportunidade de mudar a visão que tinham sobre a RESEX. “Muitos saíram agradecidos pelas palavras e pelo entendimento. Tenho certeza que foi plantada uma sementinha, e eles vão ser multiplicadores e vão orientar as pessoas corretamente sobre o que é a RESEX de Canavieiras”, observa D’Ajuda. Ela conta também que o que mais chamou atenção durante as oficinas foi a união de todos, o comprometimento com as discussões e com as propostas, e que tem a expectativa de que a maioria das propostas seja colocada em prática, “mesmo que seja para as gerações futuras”.

João Gonçalves de Santana, conhecido como João Barba, é pescador extrativista e faz parte da coordenação institucional da Associação Mãe do Extrativistas da RESEX Canavieiras – Amex. Ele conta que está achando um projeto muito importante para a RESEX como um todo, pois é uma oportunidade de levar o nome da RESEX, e as ações que estão sendo realizadas para as outras pessoas. Através do PPPea podemos mostrar às pessoas que a RESEX vem para somar e para buscar as políticas públicas e os direitos essenciais de quem vive na RESEX. “A gente acredita que o PPPea venha para agrgar e eu espero muito de nós mesmos e do nosso povo das bases, que todos entendam o que é RESEX, AMEX, PPPea”, comenta. “tô me sentindo a vontade, aprendendo mais, a minha

mente abriu bastante. Quando a gente participa de um projeto desse, a gente relembra os passos importantes de anos atrás e pode estar se fortalecendo mais com o PPPea.”

Ele faz uma reflexão sobre as ideias de projetos e ações que são construídos durante o processo do PPPea, que acredita ser possível a implementação das propostas, mas que é preciso ter os pés no chão. “Ser possível, é, mas sabemos que leva um tempo. O que está sendo construído aqui é o início, para mostrar o que já temos e o que precisamos, como colocamos isso para as bases”. Ele enfatiza a importância das parcerias para o projeto: “é preciso juntar com as instituições de saúde e educação e lá ter alguém que olhe com mais carinho para esse projeto e para a RESEX, e veja que isso aqui é o que podemos ter para o futuro”, ressalta.

O jovem Thiago de Aguiar Souza, de 23 anos, mora em Belmonte e é filho de pescadores. Ele revela que não fazia ideia do que era um PPPea, mas que foi solicitado por uma companheira para representar a comunidade. Ele acredita que o PPPea seja um projeto muito importante, principalmente no momento presencial. “Na fase virtual não conseguimos ter a dimensão de verdade do que é um PPPea, que entendi como um conjunto de diretrizes para implementação de um programa de educação ambiental que vai beneficiar a todos os beneficiários da RESEX e seu território de entorno”, explica Thiago. Ele fala que o PPPea é importante também para a quebra de ideias equivocadas sobre a RESEX, de desinformação e para consolidação da própria RESEX, e a contribuição para manutenção do meio ambiente.

Ele acredita que um dos desafios será unificar as informações dos marcos conceitual, situacional e operacional no PPPea. “Talvez a gente não consiga atender todas as expectativas. Num contexto de limitações, a gente tem que buscar priorizar as ações”. Ele espera que o PPPea consiga contemplar “aquilo que a gente debateu aqui, que tenha o lado de quem vive aqui, a visão das universidades, das escolas, dos agentes de saúde e das demais pessoas que participaram do processo de construção do PPPea”.

O curso “Processo de Formação e Construção do Projeto Político Pedagógico de Educação Ambiental (PPPEA) da Reserva Extrativista de Canavieiras” tem como base a pedagogia da alternância e teve início em outubro de 2020, no formato virtual. Foi pensado com o intuito de propiciar oportunidades de diálogos, interação, reflexão contínua das ações e para a construção de conhecimentos socioambientais e pedagógicos

a partir da realidade local e ao mesmo tempo contribuir para a construção participativa do PPPea da RESEX Canavieiras.

 

O PPPea é uma iniciativa da Associação Mãe dos Extrativistas da RESEX de Canavieiras – AMEX e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, órgão federal gestor da Unidade de Conservação – UC e surgiu a partir da Câmara Temática de Comunicação e Educação Ambiental – CT COMEA do Conselho Deliberativo da Resex de Canavieiras, com apoio financeiro do Projeto GEF-Mar.

 

Sobre a RESEX Canavieiras:

A Reserva Extrativista de Canavieiras – RESEX Canavieiras é uma Unidade de Conservação (UC) de Uso Sustentável de caráter federal, administrada no âmbito do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, e localmente pelo seu Conselho Deliberativo. Compreende os Município de Canavieiras, Belmonte e Una, na Bahia.

Texto: Nayara Lobo e Maria Henriqueta Andrade

Fotos: Nayara Lobo

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