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Artigo da Semana

Editorial : O futuro é ancestral

Por Emerson Silva

Ilhéus, com suas paisagens paradisíacas e rica história, é também um palco onde a valorização da ancestralidade ganha vida. Ao longo do ano, a cidade celebra um calendário rico em tradições que honram as religiões, figuras marcantes e momentos históricos, entrelaçando diferentes heranças culturais e espirituais. Contudo, é no início do ano que as celebrações em homenagem às raízes indígenas e africanas nos convidam a refletir sobre a importância de preservar e honrar nossas origens.

A tradição começa no início de janeiro com a Puxada do Mastro de São Sebastião, em Olivença. Esta festa, que combina elementos indígenas e católicos, é uma reverência à força e à resiliência dos povos originários. O evento, liderado pelos Machadeiros e abraçado pela comunidade local, vai além de uma manifestação de fé, tornando-se também um momento de reconexão com a natureza, simbolizado pelo replantio de mudas nativas. Esse gesto nos lembra que tradição e sustentabilidade caminham juntas, reforçando a necessidade de equilíbrio entre o legado cultural e o cuidado com o planeta.

No mesmo período, Ilhéus se enche de fé e alegria com a Lavagem das Escadarias da Catedral de São Sebastião. A presença das baianas com seus trajes brancos, jarros de água perfumada e a celebração do sincretismo religioso, promovida pelas filhas de santo, transforma o momento em uma verdadeira homenagem às religiões de matriz africana. Mais do que um ato simbólico, a lavagem é um grito de resistência, uma afirmação de identidade e de valorização da espiritualidade afro-brasileira que molda a cultura e o coração do nosso povo.
E como esquecer que 2 de fevereiro se aproxima, trazendo consigo a tradicional Festa de Iemanjá? A rainha do mar, figura tão enraizada no imaginário do povo baiano, nos convida a refletir sobre a força feminina, a sabedoria das águas e a energia ancestral que nos conecta ao sagrado. É uma oportunidade para reafirmarmos nosso compromisso de preservar nosso patrimônio cultural e ambiental, reconhecendo o papel fundamental dessas tradições na construção da nossa identidade.

Em tempos de correria, superficialidade nas relações e distanciamento entre as pessoas, resgatar a ancestralidade é mais do que uma celebração; é um ato transformador. Vivemos em um mundo onde o tempo parece escapar por entre os dedos e essa falta de conexão nos faz esquecer quem somos e de onde viemos. É nesse contexto que olhar para nossas raízes se torna essencial, pois elas nos oferecem o senso de pertencimento que tanto nos falta. As tradições de Ilhéus nos ensinam que é possível construir pontes entre passado, presente e futuro, criando um cordão invisível que une nossas histórias às próximas gerações.

A ancestralidade nos mostra que valores como coletividade, respeito à diversidade e harmonia com a natureza não são apenas lembranças de um tempo distante. São respostas atemporais para os desafios que enfrentamos hoje, como a desigualdade, a intolerância e o descaso com o meio ambiente. Quando participamos de celebrações como a Puxada do Mastro ou a Lavagem das Escadarias, somos convidados a compartilhar histórias, fortalecer os laços humanos e enxergar no outro uma extensão de nós mesmos.

Ilhéus é a prova viva de que um futuro digno só pode ser construído quando reconhecemos o valor do passado. O respeito às nossas tradições é uma forma de resistência ao apagamento cultural e, ao mesmo tempo, uma expressão de esperança. Ele nos lembra que o que recebemos de nossos antepassados é mais do que um legado; é uma bússola que nos guia em direção a um amanhã mais justo e humano.

Que neste ano possamos ir além da simples celebração. Que possamos absorver o que essas festas têm a nos ensinar: em tempos de isolamento, a união é a resposta; em tempos de pressa, a sabedoria está em respeitar os ciclos naturais da vida. O futuro é ancestral porque é nas nossas raízes que encontramos força para prosperar. Ao cuidar da nossa história, da nossa cultura e das nossas pessoas, construímos um mundo onde há mais espaço para empatia, igualdade e esperança.

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