Artigo da Semana
Grilagem em Ilhéus: a “Terra Prometida” e o enredo real de uma injustiça*
Por Emenson Silva
O drama vivido por Neuzão em ‘Ó Paí, Ó 2’ pode parecer apenas um enredo ficcional, mas reflete uma realidade cruel que há décadas assombra comunidades na Bahia: a grilagem de terras. Em Ilhéus, o caso da comunidade Terra Prometida escancara como esse esquema opera, transformando moradores históricos em invasores de suas próprias casas. Empresas de fachada, cartórios suspeitos e interesses políticos compõem um roteiro que se repete, sempre beneficiando poucos à custa de muitos. Este editorial lança um alerta sobre mais um capítulo dessa história de injustiça e resistência no sul da Bahia.
O texto a seguir me foi enviado por uma pessoa que prefere não se identificar, mas confiou neste espaço – que tem se consagrado por suas denúncias e opiniões sobre o cotidiano da sociedade ilheense – para trazer à tona essa questão tão importante e lamentável. A grilagem acontece sob nossos narizes e, muitas vezes, ou não temos conhecimento de sua gravidade, ou simplesmente escolhemos ignorá-la. É preciso enfrentar essa realidade e cobrar das autoridades medidas concretas para proteger aqueles que têm sido historicamente lesados por esse sistema perverso.
Nesta semana, abro espaço para este texto importante, cujo título original é _“O drama de Neuzão e a realidade da grilagem na Bahia: o caso ‘Terra Prometida’ em Ilhéus”_ :
A injustiça sofrida por Neuzão, personagem do filme ‘Ó Paí, Ó 2’, não é apenas um enredo ficcional para emocionar o público. Na trama, Neuzão perde seu bar devido à falsificação de uma escritura, um golpe que envolveu um cartório, uma empresa estrangeira e um “gringo”.
O que parece uma história criada para a ficção é, na verdade, um espelho de um problema recorrente que assola diversas comunidades no sul da Bahia: a grilagem de terras. Casos como o de Neuzão acontecem frequentemente no Brasil, onde territórios que antes eram livres e ocupados por comunidades tradicionais de repente passam a ter donos por meio de documentos forjados. Na Bahia, a prática tem sido denunciada em diversas regiões, a exemplo do Oeste da Bahia, em que juízes e promotores foram afastados. Outro exemplo emblemático é o da comunidade Terra Prometida, que enfrenta na Justiça uma batalha relacionada suposta propriedade reivindicada por uma empresa “estrangeira” e transmitida via acordo judicial para uma Associação que além de ser constituída recentemente seus membros e associados tem ligações fortes com representantes de diversos segmentos da sociedade.
A estratégia dos grileiros é sempre semelhante: utilizam empresas de fachada, muitas vezes de origem estrangeira, para alegar posse de áreas consideradas improdutivas ou sem documentação formalizada. Com apoio de cartórios e figuras influentes, conseguem registros duvidosos, retiram as famílias e passam a lucrar com a exploração do território. Enquanto isso, a população humilhada e carente clama por socorro.
O que aconteceu com Neuzão, ao perder seu bar de maneira injusta, acontece diariamente com trabalhadores rurais e comunidades inteiras, que são expulsos de suas terras sem qualquer direito de defesa. A expectativa da comunidade sul baiana é que o mesmo não aconteça com a Comunidade da Terra Prometida. A grilagem no sul da Bahia não é um fenômeno novo, mas tem se intensificado nos últimos anos.
O caso da Terra Prometida ilustra bem esse cenário. Os moradores, que vivem na região há quase duas décadas, viram suas terras serem cobiçadas por interesses empresariais que buscam transformá-las em empreendimentos imobiliário.A luta dessas comunidades não é apenas por um pedaço de terra, mas pela preservação de sua história, cultura e modo de vida. Assim como no filme ‘Ó Paí, Ó 2’, onde Neuzão se vê impotente diante do poder dos grileiros modernos, as comunidades baianas enfrentam um sistema que parece favorecer os invasores.
No entanto, a resistência popular tem sido um elemento essencial para frear esse processo. Organizações sociais, movimentos de luta por moradia e terra, bem como ações judiciais, têm sido fundamentais para impedir que a injustiça prevaleça. Se Neuzão tivesse mais recursos e apoio, talvez sua história no filme fosse diferente. Mas, na vida real, a união da sociedade civil pode fazer a diferença para evitar que mais casos de grilagem prejudiquem aqueles que há décadas construíram suas vidas nessas terras de modo peculiar e simples. Querem apenas o direito de viver e sobreviver !
O que aconteceu com ele não pode ser apenas uma narrativa para entreter, deve ser um alerta para que todos fiquem atentos e cobrem das autoridades uma solução para esse problema crônico. A injustiça sofrida por Neuzão é real e está acontecendo agora, com nomes e rostos diferentes, mas com o mesmo enredo perverso.
A pergunta que fica é: até quando? Será a Terra Prometida, localizada em Ilhéus, mais uma vítima desse sistema cruel?
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