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Lula, Venezuela, narcotráfico: o movimento revolucionário ameaça o Brasil
Reprodução: Gazeta do Povo
Caso Lula seja eleito, não é apenas o PT que retorna à presidência. O poder executivo do governo brasileiro será entregue ao movimento revolucionário internacional.
Sei que essa frase soará como um exagero para algumas pessoas, mas esta é a conclusão sóbria que surge da observação da história do movimento revolucionário.
A unidade do movimento revolucionário internacional
Recomendo ao leitor o livro ‘Fire in the Minds of Men: Origins of the Revolutionary Faith’ [Um incêndio na mente dos homens: As origens da fé revolucionária, em tradução livre, sem edição no Brasil], de James H. Billington, que narra a trajetória de diversos movimentos revolucionários do século dezoito até o século vinte.
Um aspecto interessante do livro é sua descrição das personalidades por trás das revoluções. Dessa descrição a profunda coesão do movimento revolucionário internacional fica evidente.
Essa identidade foge aos olhos dos observadores contemporâneos por causa da natureza essencialmente dialética do movimento revolucionário. Os revolucionários não se unem porque possuem um sistema coeso de propostas e valores. Eles se unem porque querem derrubar o sistema atual. Como o sistema atual sempre muda, mudam também as propostas e estratégias dos revolucionários.
Se olharmos para as vidas dos revolucionários, e não para suas ideias, fica evidente que todos partilham do mesmo ethos, do mesmo clima cultural. Por trás das inúmeras divergências ideológicas entre um anarquista, um fascista e um marxista, há trajetórias de vidas parecidas, experiências comuns e até um senso de fraternidade que ultrapassa fronteiras nacionais e classes sociais. Eles se conheciam pessoalmente, trocavam correspondências, iam para as mesmas conferências e faziam parte das mesmas sociedades secretas.
E, obviamente, forneciam amparo aos colegas exilados e compartilhavam expertise nas estratégias de agitação política, tomada de poder e, em muitos casos, em técnicas de promoção de atos terroristas.
Essa coesão internacional do movimento se intensificou ainda mais no século vinte, na medida em que os partidos comunistas tomaram o poder em nações importantes e passaram a usar os significativos recursos estatais de cada país para financiar a expansão internacional da revolução, seja por meio de operações militares ostensivas ou pelas operações mais discretas dos serviços de inteligência.
Nesse sentido, o Foro de São Paulo, denunciado por Olavo de Carvalho há mais de vinte de anos, é a continuação em nossa região de uma prática tradicional do movimento revolucionário: reunir os líderes de diversas facções revolucionárias para coordenar ações em diversos países em benefício do próprio movimento.
Sei que, à primeira vista, essa unidade soará forçada para os leitores que não conhecem a historiografia do movimento revolucionário. Porém, peço que notem que isso explica perfeitamente uma série de decisões que o próprio PT tomou durante seu governo: tanto nas negociações das refinarias brasileiras na Bolívia, no acordo com Cuba no Mais Médicos e em inúmeros acordos com a Venezuela, os governos petistas pareciam dispostos a tomar posições que, não apenas eram contrários ao interesse nacional, mas prejudicavam a imagem do partido.
A explicação para essas decisões é simples: a lealdade à causa revolucionária internacional falava mais alto que o povo brasileiro.
A mentalidade revolucionária
Obviamente, a constatação dessa profunda coesão entre ideologias tão distintas gera um mistério: de onde surge a unidade do movimento revolucionário?
Como é que o mesmo ímpeto pode assumir as mais diversas propostas e causas, mantendo um alto grau de coesão interna e coordenação entre aliados?
A explicação está na mentalidade revolucionária, um conjunto de traços psíquicos que fornece a “cola social” para os diversos ramos do mesmo movimento.
A mentalidade revolucionária se caracteriza por uma inversão da fórmula cristã. Enquanto os cristão se consideram pecadores, isto é, seres imperfeitos, buscando a redenção por meio da intervenção divina e buscando o paraíso após a morte, os revolucionários acreditam que o paraíso será implementado aqui e agora por meio da ação dos próprios revolucionários.
Para um autêntico revolucionário, o mundo é mal e apenas os revolucionários são bons. O revolucionário vê injustiças por todos os lados e se vê como o anjo vingador que tornará todas as coisas justas novamente.
O revolucionário pode falar em justiça, igualdade e fraternidade, mas o verdadeiro motor da mentalidade revolucionária é o ódio e o ressentimento. Notem que o ódio é um tipo de sentimento bastante específico: ele surge da sensação intensa que fomos vítimas de uma injustiça pessoal.
O revolucionário estende esse sentimento a toda a sociedade. Ele acredita que há algo de fundamentalmente podre ao seu redor – seja nas famílias, nas religiões, nas elites ou nas instituições – e que, apenas ele próprio sendo puro, cabe a ele extirpar esse mal do mundo.
Esse sentimento de revolta é o que dá ao movimento revolucionário a sua natureza dialética. O revolucionário não tem uma proposta específica de governo. Ele simplesmente sente que poderia criar algo bem melhor do “tudo que está aí”.
Justamente por isso, o revolucionário está sempre trocando de causa e de métodos. A revolução não tem outro objetivo senão a própria revolução.
Qualquer governo instituído pelos revolucionários convive com a ameaça de ser visto como não sendo suficientemente revolucionário pelos seus próprios apoiadores, gerando sucessivas crises de legitimidade, oscilando entre violência generalizada e um crescente de repressão autoritária ainda mais violenta que o governo pré-revolucionário.
Daí o adágio que a revolução devora os próprios filhos: ninguém mata tantos revolucionários quanto os revolucionários que estão no poder.
A violência, afinal, é parte essencial do movimento revolucionário.
Como seu objetivo é implementar o paraíso na terra, como apenas os revolucionários são bons o suficiente para lutar por isso, e como nem mesmo eles sabem exatamente como isso será feito, isso significa que há apenas uma coisa a fazer: colocar todo o poder nas mãos dos revolucionários e deixar que eles decidam todo o futuro.
Se for preciso matar algumas pessoas para chegar nesse resultado, eles o farão de bom grado.
Afinal, o que são algumas vítimas sacrificiais pelo benefício de implementar o paraíso na terra?
Cometer alguns crimes para realizar essa nobre missão – aparelhar estatais, mentir, roubar – são menos que detalhes. São obrigações morais.
É o dever de todo revolucionário fazer o que for preciso para apoiar a revolução.
A flexibilidade estratégica dos revolucionários
Nesse ponto, sei que alguns leitores levantaram a seguinte objeção: é ridículo chamar Lula de revolucionário, já que o PT não quebrou a ordem institucional nem aboliu o capitalismo.
Essa objeção, mais uma vez, se desfaz rapidamente quando se observa a natureza dialética dos movimentos revolucionários.
Assim como os revolucionários mudam de alvo de acordo com o contexto, eles também mudam com a mesma frequência de estratégia.
Por exemplo, embora o movimento seja frequentemente anti-clerical, nada impede que ele tente infiltrar as igrejas para destruí-las por dentro. Embora ele seja intrinsecamente internacionalista, nada impede que ele promova movimentos nacionalistas quando for conveniente para desestabilizar um adversário particular.
Do mesmo modo, o movimento revolucionário pode apoiar eleições ou questioná-las, defender a ordem constitucional ou exigir uma nova constituinte, atacar o setor privado ou parasitá-lo – tudo dependendo da conveniência do momento.
Para o movimento revolucionário, o Brasil é mais útil como uma fonte de recurso do que como palco de uma tomada de poder sangrenta.
A política de criar “campeões nacionais”, o “desenvolvimentismo”, longe de ser sinais de “moderação”, um “aceno ao centro”, foi uma manobra inteligentíssima do PT para concentrar os recursos econômicos nas mãos de uma oligarquia, para facilitar o redirecionaremento desses recursos para seus parceiros revolucionários – como se vê nos acordos com os governos da Venezuela, Bolívia e Cuba, entre outros.
É a velha estratégia de engordar a vaca antes de mandá-la para o abatedouro.
Nesse sentido, a acepção ginasiana do termo socialismo é extremamente enganadora.
O movimento revolucionário não irá necessariamente confiscar os meios de produção — não se houver modos mais eficientes de controlar os capitalistas e continuar financiando a revolução (como se vê, aliás, na China, onde o Partido Comunista já completou 70 anos no poder e aprendeu a usar as grandes corporações privadas).
O movimento revolucionário e o narcotráfico
Embora esse artigo já esteja bastante longo, não posso deixar de notar que há uma ligação direta entre o movimento revolucionário e o narcotráfico.
Mesmo antes da explosão da contracultura dos anos sessenta, o uso de drogas e a busca por “estados alterados de consciência” era um tema de enorme interesse por parte de intelectuais ligados ao movimento revolucionário, fosse como um modo de estimular a criatividade artística ou romper os “padrões moralistas da sociedade burguesa” ou, em uma interpretação mais maquiavélica, pelo seu potencial em desestabilizar as famílias e retirar as pessoas do mercado de trabalho.
Porém, há também considerações pragmáticas: o narcotráfico, afinal, é um jeito bastante eficiente de financiar e armar organizações paraestatais, um pré-requisito para qualquer revolução.
Se olharmos para as FARC, uma organização de guerrilha marxista-leninista que se financiou por meio de sequestros e tráficos de drogas, não será preciso esperar o TSE nos dizer o que pensar das declarações do Marcola para saber quem é o candidato do tráfico.
A nossa responsabilidade
Com isso, não estou dizendo que uma revolução no estilo soviético virá ao Brasil após uma vitória de Lula. O que virá será mais discreto, mas igualmente insidioso.
O PT retornará à sua função de parasitar a sociedade brasileira, transferindo recursos para o movimento revolucionário internacional e liberando o narcotráfico para continuar desestabilizando as famílias e destruindo a coesão social.
Nossas ações nas próximas semanas irão definir as próximas décadas.
Lucas Mafaldo é professor e pesquisador, com pós-doutorado em filosofia pela Universidade de Ottawa. Seus textos podem ser encontrados em seu site pessoal: https://www.lucasmafaldo.com.br/
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