Ilhéus
Após 94 dias de internamento, Haynarú Rudá, o curumim de maior prematuridade do Materno-Infantil de Ilhéus, recebe alta
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Foram 94 dias de internamento, 71 deles nas Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, unidade da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) gerida pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), em Ilhéus. Nesta quinta-feira (20), finalmente, a alta médica. Haynarú Rudá, o indígena com maior prematuridade já registrado desde a inauguração do HMIJS, segue para a Aldeia Itapoã, na região de Olivença, litoral sul do município, onde sua família reside. Uma despedida emocionante foi organizada pelos profissionais do Materno-Infantil. Haynarú Rudá, acompanhado dos pais, deixou o hospital sob aplausos, em meio a uma decoração com balões roxos (cor que simboliza a prematuridade) e brancos.
Nunca fez tanto sentido a escolha do nome do curumim. Haynarú vem do Patxohã, língua dos Pataxó, etnia do pai, da região de Porto Seguro, e significa “Nasceu caçador”. Rudá, de origem tupi, língua dos Tupinambá, etnia da mãe, significa “Divindade do Amor”. Haynarú Rudá nasceu no dia 16 de novembro do ano passado, pesando apenas 980 gramas e medindo 37 centímetros. O parto natural ocorreu no primeiro dia da 26ª semana de gestação.
Para marcar essa grande vitória, a mãe, Laís, professora na aldeia e artista plástica, pintou uma camisa especialmente para a data. Haynarú Rudá também trouxe em sua vestimenta a marca da tradição de seu povo. Durante mais de três meses, os pais não se afastaram do hospital, e os profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não mediram esforços para vencer o desafio da prematuridade. Na retaguarda, a equipe de terapeutas ocupacionais e psicólogos ajudou a garantir o bem-estar emocional da família.
“Foi nesse momento final, no (setor) Canguru (onde filhos e pais vivenciam uma proximidade maior), que realmente caiu a ficha. Foi um momento muito especial, em que toda a história passou pela minha cabeça e pude sentir que vencemos essa batalha”, afirma Laís Eduarda. Os últimos meses foram de muitas orações. Rituais com lideranças indígenas tupinambá – respeitando as tradições culturais dos dois povos – aconteceram no leito onde a mãe se recuperou nos primeiros dias após o parto e seguiram como uma rotina na área verde do hospital. Na Aldeia Itapoã, a comunidade se reuniu tradicionalmente todas as sextas-feiras para o Porancy (ritual sagrado), em intenção da recuperação do indígena. “Foi muito especial não ter saído de perto dele um só minuto sequer”, lembra Laís.
*SUS para todos*
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a única unidade hospitalar da Bahia habilitada pelo Ministério da Saúde para atendimento aos povos indígenas. Para obter essa aprovação, o Materno-Infantil implementou diretrizes que norteiam o programa, desde a melhoria no acesso das populações indígenas ao serviço especializado até a adequação da ambiência de acordo com as especificidades culturais e a adaptação das dietas hospitalares conforme os hábitos alimentares de cada etnia. A iniciativa também inclui acolhimento humanizado e práticas de trabalho sensíveis à vulnerabilidade sociocultural e epidemiológica de alguns grupos.
Além disso, estão previstos fluxos de comunicação entre o serviço especializado e a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, por meio das Casas de Saúde Indígena (CASAI), bem como a qualificação dos profissionais que atuam nos estabelecimentos de assistência aos povos indígenas, abordando temas como interculturalidade.
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é a primeira maternidade 100% SUS da região sul da Bahia. Construído pelo Governo do Estado e entregue em dezembro de 2021, possui 105 leitos para obstetrícia, parto normaL e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e neonatal. Nestes três anos de funcionamento, registrou mais de nove mil nascimentos, dos quais quase 400 foram de bebês indígenas.
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